Janelas



Interessam-me as janelas!
Pela sua natureza ocular
Hipnotizantes e convidativas
Em flirt com a imaginação.

Lançam convites…
Como olhos insinuantes
Oferecem pontos de fuga
 Em direcção a uma intimidade velada.
Não importa se estão
Fechadas
E Chumbadas pelo sono
Ou abertas
 Em subtil prostituição,
Alugam-se
Por um golpe de fantasia.

Reconheço – lhes os caprichos:
Inebriadas e loucamente adolescentes
 Com cortinas esvoaçantes;
Introspectivas e misteriosas
À custa de pesado veludo corrido.

Interessam-me as janelas
Pelo erotismo requintado
Que as portas em rude pornografia
Não conseguem alcançar.

Interessam-me as janelas
Como me interessam os teus olhos…



Mudança Renegada




Bateu-me à porta um impulso,
Ainda com a corrente,
Através da fronteira entreaberta,
 As suas palavras vibraram
Em secretas cordas, que pensei perdidas.
Embriagado por tal carícia
 Apressei-me no convite de entrada.                                                           
Mas uma voz preguiçosa
Do fundo da cozinha
 Agarrou-me o braço,
Com avisos a morder,
 Foi-me desfiando
As feições transgressoras
Do ilustre desconhecido
E a frequência
 Com que tal contexto propicia o crime.
Delicado e inconsciente, acedi.
Sem mais demoras ou explicações
Com modos de mal-educado
Preguei, por dentro,
 A tampa do caixão.

Agora em serões silenciosos,
Encosto o ouvido
À linha da minha exclusão
Na esperança
Que cedendo à insistência
Ou por zelo profissional
Bata novamente.
Persisto!
 Em semelhante procedimento,
Que vicioso me ocupa e desgasta.

Uma trocista voz desdentada
Como mão bem fechada,
 No centro do rosto,
Vai vociferando
 Contra o meu comportamento imbecil,
Entre gritos e desprezo,
 Sorri-lhe todo o corpo
Com a imagem do casulo morto
Que em espessas camadas de terra
 Sem saber urdi.