Estratégia Amorosa



Desce sobre mim um manto,
Qual camisa-de-forças,
Ou armadura protectora,
Face às incursões da tristeza.
Aos poucos o milagre do encantamento
Acena em despedida
E numa regressão estratégia
Volto ao estado de esporo.
Acabam-se as flores,
A vitalidade dos sonhos,
E o fresco espectáculo da paixão.
As oscilações do tempo,
Em desalento fundem-se
Num período de espera,
Monótono e devorador.
Recuso-me a pensar,
A fazer renda das emoções.
Por estratégia petrifico-me,
Sem perceber a minha anulação,
Nesta doente recusa de sentir.





............



Escuridão virgem
Um risco de luz
O medo fecundado.

Despedida



Estripou-me com ímpeto
O conforto da normalidade.
Amado à bofetada,
Acariciado a pontapé,
Deixei cair
Qualquer indício
De vindoura fé.


 Pária expulso
Nas entranhas da floresta,
Onde uivam 
 Fúnebres chacais,
 Soluço, saudoso
Alegrias ancestrais .

Só e angustiado,
Em meio tenebroso,
Sem  profecia
Acerca de futuro luminoso,
Abandono-me derrotado.

Frio

 
O frio tornou dura a alma,
  Fruto cristalizado pelo gelo,
 A qualquer momento pode estilhaçar.
Não se aconselham toques afáveis,
 Na ardência polar.
Invadidos os ossos e carne,
A flexibilidade 
Em espectáculo decadente.

Resta talvez,
 Vaga esperança,
Que o inverno seja o útero,
De uma primavera em dança.
  Que a aproximação do astro real,
Seja por fim, 
 Claro sinal,
Ao recolher da amargura
E ao adeus desta tortura